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Professora bolsonarista se recusa a dar aulas para ‘alunos de esquerda’ na Unifap

Caso aconteceu na Universidade Federal do Amapá, na zona sul de Macapá.
| Oton de Oliveira | Ética
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Professora da Universidade Federal do Amapá (Unifap), dona de um dos mais qualificados currículos do corpo docente, decidiu não dar mais aulas a pessoas que tenham vertentes políticas de esquerda.

A decisão teve impacto imediato em alunos do Curso de Farmácia, colegiado do qual ela faz parte e é orientadora de trabalhos de graduação e programas de pós-graduação em mestrado e doutorado.


Professora da Universidade Federal do Amapá (Unifap), dona de um dos mais qualificados currículos do corpo docente, decidiu não dar mais aulas a pessoas que tenham vertentes políticas de esquerda.

A decisão teve impacto imediato em alunos do Curso de Farmácia, colegiado do qual ela faz parte e é orientadora de trabalhos de graduação e programas de pós-graduação em mestrado e doutorado.

A reação da professora doutora Sheylla Susan Moreira da Silva de Almeida, autodeclarada apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado pelo candidato eleito Lula (PT), foi compartilhada e denunciada por alunos da instituição.

Em um grupo de WhatsApp, ela declara que não dará mais aula para dois orientandos e que entregará a carta de orientação de ambos.

“Não quero esquerdistas no laboratório”, dispara.

“Se tiver mais algum esquerdista, que faça o favor de pedir desligamento… ou estão comigo, ou contra mim”, acrescenta em seguida.

 

Declaração polêmica da professora. Fotos: Reprodução de Redes Sociais e Divulgação

Uma destas pessoas citadas na mensagem é a professora da Universidade Estadual do Amapá (UEAP), Débora Regina dos Santos Arraes, de 35 anos, que está no 3° ano de doutorado pela Rede Bionorte, instituição vinculada à Unifap.

Ela detalha que Sheylla Almeida tomou a atitude baseada nas publicações que ela e seu colega teriam feito em seus perfis, onde eles declaravam apoio a Lula. Isso teria despertado a ira da orientadora.

“Fui a favor, votei no Lula, fiz postagens em redes sociais. Mas nunca mandei no grupo, nunca mandei para ela, nunca nem conversei e não toquei nesse assunto. O que motivou a atitude dela eu não sei responder. Mas me senti muito abalada, fiquei gelada, meu coração disparado, porque eu senti que isso foi uma violência contra mim, uma violência contra o meu direito, a minha opinião, contra aquilo que eu defendo, contra uma universidade pública de qualidade”, desabafou Débora Arraes. 

A doutoranda também diz se sentir constrangida pelos colegas que integram o grupo e têm suas questões políticas e ideológicas, mas não podem se expressar, por receio. 

“Sou doutoranda, tenho meu emprego, mas tem alunos lá que são de PET (Programa de Educação Tutorial), IC (Iniciação científica), mestrado, e essas pessoas vivem de bolsa e precisam se submeter a essas condições, e para eles seria uma situação bem mais difícil se ela retirasse eles dessa bolsa porque que é a fonte de renda de sobrevivência, de sustento e a possibilidade de estudo. Então, ninguém respondeu no grupo, ficou todo quieto”, comentou a professora Débora.

Agora, ela vai em busca de um novo orientador para concluir seu doutorado “em paz”.

“Eu não posso permitir que um episódio determine meu futuro”, finalizou.

O perfil de Sheila Susan Almeida no Instagram …

 

… está repleto de postagens …

 

… de apoio ao presidente Bolsonaro…

 

… e críticas à esquerda

Sem se identificar, um acadêmico do Curso de Farmácia, coordenado por Sheylla Almeida, apresentou outras denúncias. Ele diz que pelo prestígio e nome na vida acadêmica que ela tem, suas falhas acabam ficando impunes.

“Ela não cumpre nenhum prazo, marca atividades e não aparece ou quando não, desmarca em cima da hora, não é profissional, visto que não sabe separar as coisas. Faz simplesmente tudo o que quer e o colegiado passa pano, sim, porque ninguém tem coragem de bater de frente com ela”, denunciou.

Agora, os alunos pedem providências da Unifap sobre o assunto.

“Nós, como acadêmicos do curso de farmácia não toleraremos mais esse e quaisquer tipos de assédio por parte de professores, técnicos ou acadêmicos. Essa foi a primeira denúncia oficializada e não será a última. Mas o que queremos com isso é cobrar que a Unifap tome as medidas necessárias para coibir esses assédios e atos antidemocráticos dentro da universidade”. 

A Ueap lançou nota em solidariedade à professora e doutoranda Débora Arraes, no caracteriza como assédio e opressão por posição política por parte de sua orientadora.

Posicionamento da Ueap

A reitoria da Unifap disse que tomou conhecimento por meio das redes sociais do fato caracterizado como assédio. Falou estar indignada e que contrapõe toda e qualquer forma que reprima o pensamento ou liberdade de acadêmicos e servidores.

“Registra-se que a UNIFAP não concorda com tal conduta e os fatos estão sendo apurados, bem como serão adotadas as providências necessárias após as devidas apurações”, diz a nota.

Posicionamento da Unifap